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Quimio pode não ser indicada para 70% dos casos de câncer de mama em estágio inicial

16/07/2018

A quimioterapia é uma das formas mais utilizadas pela medicina para combater o câncer de mama. Embora o tratamento tenha evoluído ao longo dos últimos anos, ainda representa, para as mulheres, desgastantes efeitos colaterais físicos e emocionais, como a perda de cabelo, enjoos, cansaço e queda da imunidade. Mas uma nova pesquisa internacional, feita com mais de 10 mil mulheres nos Estados Unidos e no Canadá, pode mudar isso.

 

O estudo, chamado Tailorx, foi publicado na revista acadêmica "New England Journal of Medicine" e indica que em torno de 70% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama em estágio inicial não precisam ser submetidas à quimioterapia.

 

"Existe uma série de trabalhos que já vinha apontado nessa direção, e esse estudo era a peça que faltava para reduzir o uso da quimioterapia. Poupar uma mulher de fazer um tratamento desgastante como esse tem valor altíssimo”, diz a médica Laura Testa, chefe do serviço de oncologia mamária do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira).

 

Nesses casos, a quimioterapia é substituída por uma terapia hormonal, que bloqueia a produção do estrógeno. Além de a doença ainda estar em estágio inicial, há outras variáveis que devem ser observadas para dispensar a quimioterapia, como a paciente não apresentar traço da proteína HER 2, o que indica um tumor mais agressivo. 

 

Segundo a médica, com tanta disponibilidade de informação, hoje já é possível evitar a quimioterapia em 30% a 40% dos cânceres de mama diagnosticados logo no início. O principal desafio para a ampliação disso e para colocar em prática o que aponta a pesquisa é o alto custo.

 

O exame genético que é capaz de dar ao médico as informações cruciais para dizer se a quimioterapia é ou não é necessária custa, hoje, em torno de R$ 13,5 mil. O teste é feito fora do país e não tem cobertura pelo sistema público de saúde nem por grande parte dos convênios.

 

A expectativa, porém, é que, a partir de agora, com a divulgação do estudo, institutos de pesquisa, faculdades e o próprio governo possam começar a pensar em formas de baratear o exame, assim como analisar os custos e os benefícios de sua aplicação.

 

A aposentada Elfriede Galera, 62, diagnosticada com câncer de mama há oito anos, acredita que é fundamental lutar para que o teste fique acessível a toda população. "Os efeitos físicos e psicológicos da quimioterapia são muito difíceis. Nunca diga para uma mulher que está passando pelo tratamento que o cabelo não é nada e que vai crescer. Ela sabe disso, mas vai ser sofrido mesmo assim. O que ela precisa é ser amparada, é ser segurada no colo."

 

O tumor de Elfriede foi diagnosticado tardiamente, já com metástase. Portanto, no caso dela, o tratamento com a quimioterapia não poderia ser dispensado. Mas a aposentada, que hoje dá palestras sobre a sua experiência e mantém contato com muitas outras mulheres que enfrentam a doença, sabe da importância que essa mudança no tratamento poderia representar para grande parte das pacientes. "Ao longo do tratamento, eu já fiquei quatro vezes careca. A segunda vez foi a mais difícil, porque dá um sentimento de frustração. É como se você tivesse feito alguma coisa errada, mesmo sabendo que não fez", revela.

 

Elfriede e a médica destacam a importância do diagnóstico precoce para o sucesso do tratamento. Quando o câncer é identificado em fase inicial, a cura é total na maioria dos casos. Pelo Ministério da Saúde, a mamografia, principal exame para detecção de tumores, é recomendada a partir dos 50 anos. "Mas é importante a mulher ir sempre ao ginecologista e conversar com o médico, porque ele vai poder analisar, com base em uma série de dados –como o histórico de câncer na família, o número de gestações, os hábitos de vida daquela mulher–, se os riscos de ela desenvolver a doença são maiores e, portanto, se é indicada a mamografia antes dos 50 anos", diz Laura. Para Elfriede, é fundamental que a mulher ame o próprio corpo e saiba olhar para ele. “A mamografia dói, mas o câncer dói muito mais."



ENTENDA MELHOR O QUE DIZ O ESTUDO


Indica a redução do uso da quimioterapia em muitos casos de tratamento de câncer de mama a partir do teste Oncotype DX, que analisa material genético do tumor


Quem poderia se tratar sem quimioterapia


- Pessoas com tumores identificados em estágio inicial, em que não há presença de linfonodos (ínguas) nas axilas
- Pacientes com câncer que apresentam receptores hormonais positivos (ou seja, são sensíveis ao estrógeno)
- Quem não apresenta uma proteína chamada HER 2 (essa proteína indica um tipo de tumor mais agressivo)


Como ficaria o tratamento


- Cirurgia para a retirada do tumor 
- Uso de remédio que bloqueia o hormônio estrógeno ou impede que o corpo o produza


Como é hoje


- Entre 30% e 40% dos casos de câncer de mama em estágio inicial já são dispensados do tratamento com quimio
- O novo estudo deve ampliar isso


Desafios


- O custo do teste Oncotype DX é muito alto. O preço gira em torno de R$ 13,5 mil e não é feito no Brasil (a amostra segue para os Estados Unidos). Não há cobertura pelo SUS
- A expectativa é que com a divulgação da nova pesquisa, o exame possa se tornar mais barato e comece a se pensar formas de viabilizá-lo para um maior número de pessoas, inclusive dentro do sistema público de saúde



Fonte: Agora | Portal da Enfermagem
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