Mais detalhes sobre a "combinação notável" de características distintas observadas em pacientes com a pneumonia da Covid-19 (sigla do inglês, Coronavirus Disease 2019) foram descritas pelos mesmos médicos italianos que alertaram que o uso do ventilador de acordo com os protocolos poderia estar sendo mais prejudicial do que benéfico para alguns pacientes.

Dr. Luciano Gattinoni, médico da Medical University of Göttingen, na Alemanha, e colaboradores chamaram atenção para o problema no dia 30 de março, em uma carta ao periódico American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine.

E agora eles aprofundaram as observações em um editorial publicado no periódico Intensive Care Medicine no dia 14 de abril. O médicos argumentaram que, embora a pneumonia da Covid-19 possa se enquadrar na definição de síndrome do desconforto respiratória aguda (SDRA), trata-se de uma "doença específica" com características próprias.

Eles relataram que na série de 150 pacientes apenas 20% a 30% apresentaram uma doença semelhante à SDRA grave. Eles também identificaram dois fenótipos distintos (Tipo L e Tipo H), que de acordo com os autores, exigem abordagens terapêuticas diferentes.

Isso contraria as orientações atuais. A European Society of Intensive Care Medicine, que publicou uma das primeiras diretrizes de conduta internacionais para tratar pacientes com Covid-19 grave, colocou que pacientes em ventilação mecânica "devem ser tratados assim como os demais pacientes com insuficiência respiratória aguda internados em unidades de terapia intensiva (UTI)".

Outros grupos também questionaram essas orientações, bem como os atuais protocolos de ventilação mecânica para pacientes com a pneumonia da Covid-19. Em um vídeo gravado para o Medscape, a Dra. Barbara A. McLean, especialista clínica em cuidados intensivos do Grady Health System, nos Estados Unidos, disse que sua experiência também indica que a pneumonia da Covid-19 consiste em duas patologias pulmonares diferentes, o que exige dois protocolos de ventilação distintos.

Um médico atuando na linha de frente em Nova York também questionou os atuais protocolos de ventilação mecânica, pontuando que alguns pacientes apresentam sintomas que se assemelham à doença de grandes altitudes, com hipóxia, mas que ainda conseguem falar.

O Dr. Massimiliano Sorbello, médico do AOU Policlinico San Marco University Hospital, na Itália, assinou embaixo ao comentar sobre o fato de ter observado uma "dissociação" entre os sinais clínicos e os exames laboratoriais de pacientes com Covid-19.