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Estímulo elétrico e dieta de alho para combater a perda de memória em idosos

03/05/2019

Você já deve ter visto a cena: protagonista, nem sempre herói, em laboratório cheio de fios, lâmpadas e líquidos borbulhantes, é submetido a choques no cérebro por cientista maluco (ou por ele próprio).

 

Ao final do processo, surge um super-homem, um psicótico terrível ou uma alma dividida. Não há uma lista disponível de todos os filmes que recorreram a esse manjado clichê do terror ou da ficção científica, mas os psiquiatras Andrew McDonald, da Universidade de Sydney e Garry Walter, da Central Coast Health do Norte de Sydney, em Nova Gales do Sul contabilizaram 24 películas que apresentam o eletrochoque, ou eletroconvulsoterapia, ECT, como preferem os médicos – em sua maior parte, cercado de carga negativa, com o perdão do trocadilho.

 

Segundo a dupla, que em 2004 publicou o primeiro estudo sobre as relações entre Hollywood e a ECT, já na estreia do tema no cinema, em 1948, A Cova da Serpente (The Snake Pit), com Olivia de Havilland no papel de uma escritora que enfrenta uma psicose logo após o casamento, ganhou um Oscar. Outro premiado, que também aborda a ECT é Um Estranho no Ninho, One Flew Over the Cuckoo’s Nest (1975), de Milos Forman, com um dos mais eficientes intérpretes de doidões da telona, Jack Nicholson. 

 

Em Paixões que Alucinam (Shock Corridor), de 1963, Peter Breck é um repórter se torna psicótico e recebe terapia convulsiva. Amarrado a uma mesa, com faixas de couro nos braços e nas pernas, tem uma compressa enrolada é enfiada em sua boca. Sua recuperação é de curta duração e, no final do filme, ele está congelado e mudo.

 

Na vida real, os eletrochoques começaram a ser utilizados em 1938, quando dois médicos italianos fizeram uma experiência-piloto com um paciente conhecido e frequentemente internado em Roma, que melhorou muito depois do tratamento. Mas naquela época, o estímulo elétrico era aplicado a seco, sem anestesia, e podia até causar fraturas.

 

Outro grande temor do eletrochoque é a perda de memória. Os médicos reconhecem que pessoas mais sensíveis ou mais velhas podem apresentar algum problema de memória depois do tratamento, mas essa condição acaba desaparecendo em até seis meses. O efeito é tão mais intenso quanto maior for o estímulo elétrico. Por essas e outras, o eletrochoque foi praticamente banido das práticas psiquiátricas durante um bom tempo. Nos últimos anos, reabilitada, a ECT voltou a ser empregada em casos específicos e cercada de muitos cuidados.

 

Mas o que essa história tem a ver com velhice? Explico, antes que me esqueça – e antes que alguém ache que meus miolos fritaram, registro: o experimento abaixo relatado não usa eletrochoque, embora parta de uma estimulação elétrica cerebral.

 

Robert M. G. Reinhart e John A. Nguyen publicaram na edição número 22 da revista Nature Neuroscience, em 8 abril de 2019, o resultado da aplicação de um “procedimento de estimulação não-invasiva para modular interações teta de longo alcance em adultos entre 60 e 76 anos.”

 

Eles convocaram 42 pessoas na casa dos 20 anos e outros 42 cognitivamente normais, mas com idades entre 60 e 76 anos para participar do experimento. Enquanto os voluntários tentavam distinguir rapidamente entre objetos novos e idênticos, os cientistas medindo suas ondas cerebrais com um eletroencefalógrafo.

 

Os mais velhos foram bem mais lentos e propensos a erros. Já entre os voluntários jovens, muito mais eficazes, as oscilações das ondas teta apareciam notavelmente sincronizadas, o que levou os pesquisadores a correlacionar essa ritmicidade com o desempenho da memória de trabalho.

 

O passo seguinte foi conferir como a sincronização dos impulsos elétricos nos mais velhos afetaria seu desempenho no mesmo tipo de teste. Uma calota craniana com eletrodos permitiu aplicar uma leve estimulação chamada de HD-tACS, ou estimulação de corrente alternada transcaniana de alta definição nos participantes. Os estímulos foram ajustados ao ritmo de cada indivíduo e desse modo eles, seguiram com a tarefa por 25 minutos.

 

Os resultados surpreenderam: após oito a 12 minutos de estimulação, o desempenho dos voluntários começou a melhorar. Aos 25 minutos, os participantes idosos distinguiam objetos com tanta velocidade e precisão quanto os jovens participantes sem estimulação. Todos mantiveram essa performance por até 50 minutos, depois de interrompida a estimulação elétrica.

 

Especialistas ouvidos pelo jornal The New York Times festejaram os resultados e assinalaram a grande vantagem: a terapia baseada em tACS não é invasiva e parece ser bem suportada. Mas deixaram um alerta: tem muito chão pela frente antes que possamos dispor de algum tipo de tratamento baseado nesse modelo.

 

Ainda no campo das pesquisas envolvendo memória e envelhecimento: um novo estudo apresentado na reunião da Biologia Experimental de 2019 em Orlando, na Flórida, indica que o consumo regular de alho pode ajudar a neutralizar as mudanças relacionadas à idade no intestino (principalmente a redução da diversidade microbiana) que estão associadas a problemas de memória, como Alzheimer e Parkinson.

 

Os pesquisadores forneceram a camundongos mais velhos um suplemento oral contendo sulfeto de alilo – um composto organosulfurado derivado da alicina, encontrada no alho. Em comparação com as cobaias que não receberam o composto, estes ratos mostraram melhor memória de longo e curto prazo e bactérias intestinais mais saudáveis.

 

O médico Jyotirmaya Behera, que coordena essa pesquisa na Universidade de Louisville, junto com Neetu Tyagi, ficou animado: “Nossas descobertas sugerem que a administração dietética de alho contendo sulfeto de alila pode ajudar a manter microorganismos intestinais saudáveis ​​e melhorar a saúde cognitiva em idosos.”



Fonte: Paulo Markun | Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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