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Linfocitopenia pode ser marcador prognóstico de covid-19 grave

05/08/2020

Baixa contagem de linfócitos em pessoas com covid-19 que buscam atendimento hospitalar pode ajudar os médicos a identificarem aqueles sob maior risco de admissão na unidade de terapia intensiva (UTI), sugerem novas evidências.

 

Pacientes com linfocitopenia têm risco mais de três vezes maior de necessitarem de terapia intensiva quando comparados com pessoas com contagem linfócitos dentro do limite da normalidade no momento da admissão hospitalar. A insuficiência renal aguda (IRA) também foi mais comum entre pessoas com contagem total de linfócitos baixa.

 

Na infecção por SARS-CoV-2 (acrônimo do inglês, Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2), vírus que causa a covid-19, a gravidade do quadro pode variar muito: "Alguns pacientes têm pouquíssimos sintomas ou são assintomáticos, enquanto outros evoluem com doença grave e debilitante, precisando ser internados na UTI. Marcadores prognósticos são necessários para triar esses pacientes", disse ao Medscape o coautor do estudo, Dr. Ahmad Farooq, médico da Divisão de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição do Departamento de Medicina Interna da University of Texas Health Science Center e da Divisão de Gastroenterologia e Hepatologia do Departamento de Medicina Interna da Duke University, ambas nos Estados Unidos.

 

Os Drs. Ahmad e Jason Wagner, médico do Departamento de Medicina Interna da University of Texas Health Science Center, nos EUA, e primeiro autor do estudo, junto com colaboradores, relataram os resultados do estudo de coorte retrospectivo conduzido por eles em uma publicação on-line em 10 de julho no periódico International Journal of Laboratory Hematology.

 

"Esse estudo mostra que uma contagem total de linfócitos < 1.000 no momento da admissão hospitalar foi associada a internação em UTI e dano orgânico, como observado na lesão renal aguda", disse o Dr. Ahmad.

 

Pesquisas anteriores associaram a linfocitopenia a outras doenças virais, inclusive a síndrome respiratória aguda grave (SARS, sigla do inglês, Severe Acute Respiratory Syndrome) e a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS, sigla do inglês, Middle East Respiratory Syndrome). Embora o mecanismo que leva à redução dos linfócitos na covid-19 ainda seja desconhecido, "acredita-se que e esteja relacionado com a redução das células T periféricas pelo sequestro de linfócitos de determinados órgãos", disse o Dr. Ahmad. Esses órgãos incluem pulmão, trato gastrointestinal e tecido linfoide.

 

Para saber mais os pesquisadores avaliaram prontuários eletrônicos de 57 adultos diagnosticados com covid-19. Todos os participantes foram admitidos em um hospital universitário comunitário em Houston entre 1º de março e 07 de maio de 2020.

 

No total, 18 pessoas (31%) foram admitidas na UTI. Metade desse grupo necessitou de entubação, e sete pacientes receberam vasopressoresA média de idade da população do estudo foi de 58 anos, 59% eram homens e o índice de massa corporal (IMC) médio foi de 32 kg/m2. A maioria dos participantes (86%) pertencia a minorias sociais.

 

Principais achados

 

A maioria dos pacientes internados na UTI tinha registro de linfocitopenia (62%) no momento da admissão hospitalar, em comparação com aqueles que não foram internados na UTI (32%). A linfocitopenia no momento da admissão hospitalar se traduziu em uma razão de chances (OR, sigla do inglês, Odds Ratio) de 3,40 (P = 0,04).

 

"Nossos dados sugerem que a contagem total de linfócitos pode ser um exame simples realizado na admissão hospitalar para prever a gravidade da doença", disse o Dr. Ahmad.

 

Os pesquisadores quiseram correlacionar esses achados com desfechos clínicos. Eles descobriram que os pacientes com linfocitopenia (68%) eram mais propensos a apresentar insuficiência renal aguda durante a internação do que aqueles que não tinham linfocitopenia (33%). Insuficiência renal aguda foi definida como aumento na creatinina sérica > 0,3 mg/dL dentro de 48 horas.

 

Aqueles com contagem de linfócitos baixa foram cerca de quatro vezes mais propensos a desenvolver insuficiência renal aguda (OR de 4,29; P = 0,01).

 

"Aparentemente a linfocitopenia pode servir como marcador prognóstico para a insuficiência renal aguda em pacientes com covid-19", disse o Dr. Ahmad. Nove dos 57 participantes morreram durante a internação.

 

Outras possíveis implicações

 

Indivíduos com linfocitopenia no momento da admissão também foram mais propensos a precisar de entubação e vasopressores, e a ficarem internados na UTI por mais de sete dias. Também houve uma tendência de maior mortalidade no grupo linfocitopenia, mas esses fatores não diferiram significativamente entre os grupos.

 

Os pesquisadores observaram que um estudo prévio associou a insuficiência renal aguda em pacientes com covid-19 a aumento da mortalidade. "Embora a linfocitopenia não tenha sido associada a mortalidade nesse estudo, o achado da associação com insuficiência renal aguda leva à necessidade de pesquisas futuras."

 

O uso de um exame laboratorial de fácil obtenção e a inclusão de uma população composta predominantemente de grupos minoritários foram forças do estudo, disseram os pesquisadores. O pequeno tamanho da amostra e o fato de o estudo ter sido conduzido em um único hospital foram possíveis limitações.

 

"Nós planejamos realizar um estudo prospectivo para validar esses achados", disse o Dr. Ahmad. "Meu laboratório também está estudando o envolvimento gastrointestinal em pacientes com covid-19."

 

Utilidade clínica considerável?

 

Convidado a comentar, o Dr. E. John Wherry, que não participou da pesquisa, disse ao Medscape que "esse é um estudo interessante". "Estão surgindo muitas evidências sobre a linfopenia em pacientes com covid-19. Pacientes mais doentes parecem ter linfopenia mais grave", disse o Dr. John.

 

"A ideia do artigo, de que a linfopenia pode ser prognóstica e permitir a identificação de pacientes com uma trajetória mais grave da doença, tem utilidade clínica considerável", disse o Dr. John, diretor do Instituto de Imunologia e do Wherry Lab na University of Pennsylvania, nos EUA. "Será interessante, no futuro, determinar a causa dessa linfopenia e investigar se a linfopenia contribui para a falta de controle da infecção", ele acrescentou.

 

Os achados fazem sentido

 

"Não é um achado surpreendente, pois os linfócitos são essenciais para manter uma resposta imunológica efetiva e equilibrada contra o SARS-CoV-2", disse ao Medscape o Dr. Brandon Michael Henry, pesquisador da UTI Cardíaca da Divisão de Cardiologia no Cardiology at Cincinnati Children's Hospital Medical Center.

 

O Dr. Brandon acrescentou que a repleção de linfócitos durante o curso da doença pode ser a chave para a recuperação e sobrevivência de pacientes com covid-19.

 

"Esses resultados são consistentes com a literatura até o momento, e fornecem novas evidências para a inclusão da contagem de linfócitos em modelos de estratificação de risco de covid-19", disse o Dr. Brandon, primeiro autor de uma metanálise publicada em 25 de junho que avaliou alterações hematológicas, bioquímicas e biomarcadores imunológicos associados à infecção por SARS-CoV-2 mais grave. Os autores e os Drs. John e Brandon informaram não ter conflitos de interesses.

 

Int J Lab Hematol. Publicado on-line em 10 de julho de 2020. Texto completo



Fonte: Medscape | Portal da Enfermagem
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