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Pesquisadores investigam mecanismos que desencadeiam fase inflamatória da COVID-19

22/05/2020

Um projeto conduzido no Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) da Universidade de São Paulo (USP) investiga os mecanismos pelos quais as células de defesa do organismo humano respondem à infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). O objetivo dos pesquisadores é, no futuro, poder propor tratamentos mais adequados para os casos graves de COVID-19.

 

Pacientes com a forma severa da doença desenvolvem um intenso processo inflamatório em diferentes órgãos. Essa segunda fase da doença, que sucede o período de replicação do vírus nas células da pessoa infectada, ainda é pouco compreendida pelos cientistas.

 

“Nos casos mais graves da COVID-19 pode haver um intenso processo inflamatório gerado em resposta à infecção pelo SARS-CoV-2 que acaba lesando os tecidos do paciente e piorando o quadro clínico. Nesses casos, o paciente pode ter desconforto respiratório, insuficiência renal ou problemas cardíacos. Precisa ser levado para a UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e pode chegar a óbito”, diz Dario Simões Zamboni , pesquisador do CRID que lidera o estudo apoiado pela FAPESP.

 

O CRID é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP e sediado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

 

O quadro descrito por Zamboni, conhecido como “tempestade de citocina”, é caracterizado por uma resposta imunológica excessiva responsável por deixar alguns pacientes gravemente doentes. Normalmente, quando ocorre uma infecção, o sistema imune envia células para atacar o vírus e, assim, neutralizar o patógeno de forma localizada. No entanto, com a tempestade de citocina, ocorre um aumento descontrolado no nível de proteínas e a indução de processos inflamatórios (as chamadas citocinas inflamatórias) intensos e generalizados, que pioram o quadro do paciente.

 

Descobrir o que ativa a inflamação

 

Nos testes em cultura celular, os pesquisadores do CRID pretendem verificar a ocorrência de um mecanismo muito conhecido e que “dá o estalo para o início da inflamação” em doenças como zika e chikungunya e febre Mayaro, que são altamente inflamatórias.

 

“Temos experiência em investigar o mecanismo inflamatório de doenças. A hipótese é que, no caso da COVID-19, o sistema imune seja ativado por um mecanismo de defesa bastante estudado pelo nosso grupo, o inflamassoma”, diz Zamboni, que coordena outro projeto de pesquisa, apoiado pela FAPESP , que investiga o papel dos inflamassomas na patogênese de doenças causadas por patógenos intracelulares.

 

O inflamassoma é um complexo proteico existente no interior das células de defesa envolvido em doenças autoimunes, neurodegenerativas, alguns tipos de câncer e outras doenças infecciosas. Quando o inflamassoma – uma espécie de maquinaria celular – é acionado, moléculas pró-inflamatórias passam a ser produzidas para alertar o sistema imune sobre a necessidade de enviar mais células de defesa ao local da infecção.

 

O grupo de pesquisadores do CRID liderado por Zamboni descobriu no ano passado que, em pacientes infectados com o vírus Mayaro, essa maquinaria celular é acionada por meio da ativação da proteína NLRP3, que faz aumentar a produção da citocina inflamatória interleucina-1 beta (IL-1β), sinalizadora do sistema imune.

 

“Ainda não sabemos como se dá essa inflamação tão forte em uma parcela dos infectados pelo SARS-CoV-2. Existe uma suspeita e alguns indicativos de que o inflamassoma esteja participando desse processo inflamatório. Por isso, nossa estratégia será monitorar a resposta imune ao vírus em experimentos feitos com cultura celular e em amostras de pacientes com COVID-19”, diz.

 

De acordo com Zamboni, entre os possíveis indicadores de que o inflamassoma possa ser acionado em casos de COVID-19 está a grande produção de IL-1β em pacientes graves. “Há também estudos mostrando que pacientes com a doença apresentam no sangue alta quantidade da enzima lactato desidrogenase (LDH), normalmente encontrada no interior das células e não no soro sanguíneo. O fato de a LDH aparecer no sangue de pacientes sugere a ocorrência de um tipo de morte celular inflamatória chamado piroptose, que ocorre quando o inflamassoma é ativado”, diz.

 

Diferentemente da apoptose, que é uma morte celular fisiológica e que ocorre de maneira silenciosa, a piroptose alerta o sistema imunológico de que algo está errado. A indução desse tipo de morte inflamatória da célula é coordenada pelo inflamassoma, embora também existam outros tipos de morte celular inflamatória independentes do inflamassoma.

 

Teste de medicamento para gota

 

No projeto, os pesquisadores também vão explorar a possibilidade de usar o medicamento colchicina em um estudo clínico que será feito no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto com 60 pacientes. A colchicina é usada no tratamento de doenças inflamatórias, como a gota, pois inibe diversos processos relacionados com inflamação, incluindo a ativação do inflamassoma. Será realizado um estudo, duplo-cego randomizado, no qual metade dos pacientes será tratada com colchicina para avaliar os efeitos desse fármaco na COVID-19.

 

Em casos de gota, a colchicina inibe a ativação do inflamassoma. “A COVID-19 é uma doença nova e ainda não compreendemos exatamente como ocorre a ativação da fase inflamatória. Nosso objetivo é compreender esses processos e avaliar possíveis tratamentos para pacientes graves de COVID-19”, diz Zamboni.



Fonte: Agência Fapesp | Portal da Enfermagem
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