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Medidas contra coronavírus reduziram poluição e salvaram 50 mil na China

24/03/2020

Medidas de isolamento tomadas pela China contra o novo coronavírus diminuíram maciçamente a poluição do ar e podem ter salvado a vida de pelo menos 50 mil pessoas no país desde janeiro. A conclusão é de Marshall Burke, pesquisador da Universidade Stanford, nos EUA, que analisou a relação do ar mais limpo com a redução da morte prematura de pessoas no país de epicentro do vírus.


"Minha estimativa sugere que 50 mil pessoas foram salvas por causa da melhora da qualidade do ar na China. Isso é realmente maior que a quantidade de pessoas que morreram diretamente em razão do coronavírus até agora​", afirmou Burke em entrevista à Folha.


Apesar disso, o pesquisador pondera que os custos econômicos, de saúde e sociais são altíssimos e que não é possível olhar esses dados como um lado bom na pandemia. "Temos melhores caminhos para melhorar a qualidade do ar, [...] que trazem os benefícios do ar mais limpo sem os custos de uma epidemia."


O sr. conduziu uma pesquisa na Universidade Stanford que revelou que medidas de isolamento tomadas pela China contra o coronavírus reduziram a poluição do ar. Como isso funciona? Imagens impressionantes de satélites da Nasa (a agência espacial americana) mostravam grande redução da poluição do ar na China entre janeiro e fevereiro. Grande parte dos meus estudos está focada nos danos que a má qualidade do ar causa à saúde, então quis entender que tipo de benefícios essa melhora na qualidade do ar poderia levar para a saúde na China. Precisei calcular exatamente quanto os principais poluentes caíram durante o período de paralisia econômica e, depois, quanto de melhoria na saúde esse avanço na qualidade do ar poderia causar.


Qual tipo de medida de isolamento teve maior impacto na qualidade do ar na China? Parece haver mais efeito nas cidades que isolaram pessoas de maneira mais agressiva, como em Wuhan [primeiro caso confirmado do coronavírus], e quase nenhum efeito em cidades como Pequim, onde as pessoas estavam em casa, mas ainda precisavam dos seus aquecedores,. Além disso, fábricas na região, de aço por exemplo, não foram completamente fechadas.


A poluição está diretamente ligada à morte prematura de 7 milhões de pessoas por ano no mundo todo. O isolamento pode diminuir a mortalidade na China? O isolamento pode melhorar a qualidade do ar e salvar algumas vidas, mas o isolamento —e a pandemia, que faz do isolamento a única opção— é também incrivelmente custosa para a saúde humana e a economia mundial. Temos melhores caminhos para melhorar a qualidade do ar, que incluem mais controle e regulamentação da emissão de gases, e a adoção de fontes de energia mais limpas. Isso vai trazer os benefícios do ar mais limpo, sem custos de uma epidemia.


Segundo dados oficiais, mais de 3.200 pessoas morreram na China por causa do coronavírus. O número de vidas que podem ser salvas com a melhora da qualidade do ar é comparável a isso? Minha estimativa sugere que 50 mil pessoas foram salvas por causa da melhora da qualidade do ar nos últimos meses na China. Isso é realmente maior que a quantidade de pessoas que morreram diretamente em razão do coronavírus até agora. Mas ainda temos que considerar os custos indiretos: pessoas perdendo salários e meios de subsistência, e pessoas que estão doentes por outras razões e não puderam ser tratadas [porque a preferência para uso dos leitos dos hospitais muitas vezes é pelos infectados por coronavírus].


Quais serão os principais custos da pandemia na China e no mundo? Os custos de saúde e econômicos para a China serão enormes —assim como provavelmente na maior parte das grandes economias do mundo. Não devemos olhar para nenhum resultado da mudança da qualidade do ar como um benefício da pandemia. Pandemias são terríveis e estão causando imensos danos e perturbações. ​


Como devemos encará-los? Como um lembrete útil sobre as consequências ocultas para a saúde do status quo, como os custos substanciais que a nossa maneira de fazer as coisas atualmente, sem pandemias, tem sobre nossa saúde e nossas vidas.


Melhorar a qualidade do ar com medidas que não são as de isolamento faria o caminho contrário, ou seja, teria algum tipo de impacto para vencer o vírus? Existem evidências tanto para coronavírus como para outras epidemias do passado de que pessoas que estavam com a saúde pior de saída tinham mais probabilidade de sofrer as piores consequências do vírus. Como a má qualidade do ar é uma das principais causas de problemas de saúde, a melhoria deve reduzir a carga geral de uma doença como o coronavírus.


O grupo que mais será beneficiado pela redução da poluição é o mesmo de risco para coronavírus: velhos e pessoas com problemas respiratórios? Sim, os velhos, principalmente, mas também as crianças.


Os mais pobres são os mais afetadas pelos efeitos diretos e indiretos da pandemia, via perda de salário e pouco acesso a tratamento e a saneamento. Na China, os pobres serão beneficiados pela melhoria da qualidade do ar? Ainda não sabemos, mas avalio que a recessão econômica vai ser muito pior que qualquer benefício que venha da melhora da qualidade do ar.


Sua pesquisa traz um lado bom da pandemia. Como evitar a mensagem de que o coronavírus pode ser positivo? Não acho que devemos ver um lado bom de maneira nenhuma. Pandemias são terríveis e esta vai ter um imenso custo de saúde e de economia ao redor do mundo. Minha única esperança é que, em pequena escala, possamos aprender como fazer as coisas de maneira diferente quando a pandemia acabar. Tenho sido forçado a dar palestras remotamente e aprendido que isso funciona muito bem e que posso —e devo— viajar menos do que fazia normalmente. Mas a atenção agora não deve ser sobre essas lições ou sobre qualidade do ar; deve ser sobre tentar manter as pessoas saudáveis e ajudar os mais atingidos economicamente.​


RAIO-X


Marshall Burke


Pesquisador e professor assistente da Universidade de Stanford (EUA)


Formação Relações internacionais pela Universidade de Stanford e doutorado em economia de recursos agrícolas pela UC Berkeley


Atuação Professor assistente do Departamento de Ciências do Sistema Terrestre e diretor-adjunto do Centro de Segurança Alimentar e Meio Ambiente da Universidade de Stanford



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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