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Como um 'Uber de órgãos', drone entrega rim para paciente dos EUA

03/05/2019

Um drone especialmente produzido entregou um rim este mês a uma mulher do estado de Maryland, nos EUA, que estava esperando há oito anos por um transplante que pode salvar sua vida.

 

Embora tenha sido apenas um voo curto de teste —de menos de cinco quilômetros—, a equipe que criou o drone, na Universidade de Maryland, diz que ele foi o primeiro de seu tipo a ser testado no planeta e representa um passo crucial na busca de maneiras de acelerar a delicada e urgente tarefa de entregar órgãos para transplantes.

 

O líder da equipe, Joseph Scalea, médico e professor de cirurgia na escola de medicina da Universidade de Maryland, disse que decidiu se envolver no projeto por conta da frustração constante quanto à demora dos órgãos em chegar aos pacientes.

 

Depois que os órgãos são removidos de um doador, eles se tornam menos saudáveis a cada segundo que passa. Ele recorda um caso em que um rim despachado do Alabama demorou 29 horas para chegar ao seu hospital. "Se eu tivesse transplantado o rim depois de nove horas, o paciente provavelmente teria uma sobrevida de diversos anos", disse Scalea. "Por que não conseguimos resolver esse problema?"

 

Para executar o projeto, a equipe de especialistas médicos de Scalea trabalhou com colegas nos departamentos de aviação e engenharia da universidade, e com a Living Legacy Foundation de Maryland, que supervisiona as doações de órgãos no estado. Ele realizou o transplantecom a ajuda de dois outros cirurgiões do centro médico da Universidade de Maryland, Rolf Barth e Talal-Al-Qaoud.

 

A mulher que recebeu o rim, Trina Glispy, 44, assistente de enfermagem moradora em Baltimore, disse que tinha começado a perder a esperança, até que recebeu um telefonema em 18 de abril no qual foi informada de que um doador compatível havia sido identificado.

 

Glispy, que tem três filhos, descobriu que sofria de insuficiência renal em 2011, quando um paciente a chutou no hospital e sua perna inchou dramaticamente. Ela passou a realizar hemodiálises três vezes por semana, em sessões de quatro horas, o que drenava sua energia.

 

Tornou-se difícil para ela realizar o trabalho físico que seu trabalho no hospital de veteranos de guerra de Baltimore requer, e que ela amava. Por isso, ficou aliviada e entusiasmada ao receber a ligação —o que aconteceu durante uma sessão de hemodiálise, aliás. A cirurgia realizada no dia seguinte transcorreu sem dificuldades e, 11 dias mais tarde, Glispy disse estar passando bem. Ela expressou gratidão, recordando seus piores temores durante os anos de tratamento. "Me sinto muito sortuda, especialmente depois de ver tanta gente morrer apesar da hemodiálise", ela disse. "Não havia como não pensar que aquilo aconteceria comigo em breve."

 

A hemodiálise pode custar caro ao organismo e não cura doenças renais. A expectativa de vida dos pacientes em diálise varia muito, mas a média é de cinco a dez anos, de acordo com a Fundação Nacional dos Rins. Os transplantes de rins podem melhorar a expectativa e a qualidade de vida. Mas muitas das pessoas que recebem um transplante do órgão acabam precisando de um segundo.

 

A Rede Unida de Compartilhamento de Órgãos, que administra o sistema de transplantes dos Estados Unidos, diz que embora a necessidade de órgãos continue a exceder em muito a disponibilidade, as doações estão em nível recorde, em termos históricos. De janeiro a março deste ano, 9.500 transplantes foram realizados, com órgãos de 4.500 doadores. Mas a fila de pessoas liberadas para cirurgia mas desprovidas de doadores ainda chega a 75 mil pessoas. Se incluirmos as que precisam de transplante mas não têm liberação para cirurgias, o número de pacientes é superior a 113 mil.

 

A escassez de órgãos tem consequências letais. Em 2017, afirmou a agência, mais de 6.500 candidatos a transplantes morreram na lista de espera, ou 30 dias depois de deixar a lista por motivos pessoais ou médicos sem receberem um transplante. Isso torna ainda mais inaceitável que um órgão para transplante se torne menos saudável devido a demoras no transporte, disse Scalea.

 

O drone usado no teste deste mês tinha motores e hélices duplicados, baterias duplas e um paraqueda de emergência, para evitar catástrofes caso algum dos componentes apresentasse defeitos a 120 metros de altura. Dois pilotos em terra monitoram o voo do drone usando uma rede sem fio e podem tomar o controle caso o sistema automatizado enfrente alguma emergência. O drone também incorpora aparelhos para medir temperatura, pressão barométrica e vibrações, entre outros indicadores. Scalea definiu o voo como "um teste do conceito de que podemos promover inovações, nesse sistema inoperante".

 

Ele acrescentou que o transporte de órgãos atual ocorre em um ambiente cego, ou seja, os médicos não podem acompanhar o trânsito do órgão. O drone permite atualizações sobre seu progresso em intervalos regulares, da mesma forma que um passageiro pode acompanhar pelo app o trajeto do táxi que pediu. "Podemos conduzir monitoração em tempo real", disse Scalea. "É como uma Uber para órgãos."

 

O drone realizou 44 voos de teste, com mais de 700 horas no ar, antes da jornada, ele acrescentou. O exercício permitiu que a equipe superasse obstáculos logísticos e regulatórios ao transporte de um órgão viável, e o foco agora será voar mais longe e mais rápido, disse Scalea.

 

O médico Christopher Marsh, diretor do programa de transplantes do Scripps Green Hospital, em La Jolla, Califórnia, e membro da Sociedade Americana de Transplantes disse que era cedo demais para avaliar a confiabilidade da entrega de órgãos por drone. Mas os cirurgiões certamente acompanharão os acontecimentos com atenção. ele disse. Marsh, que não participou do teste, apontou que a tecnologia pode ser útil para evitar tráfego nas grandes cidades. "Estamos entrando em um novo mundo", ele disse. "As coisas mudam e precisamos estar abertos a isso."



Fonte: THE NEW YORK TIMES | Portal da Enfermagem
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