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Brasil não tem sistema de vigilância de fungos e corre risco, diz médico

10/04/2019

O Brasil não dispõe de um sistema ativo de vigilância de fungos capaz de identificar precocemente a Candida auris, que ataca pessoas com o sistema imunológico enfraquecido e está se espalhando rapidamente pelo mundo. O maior risco é que o fungo entre no país a partir da Venezuela, primeiro país das Américas a registrar surtos de Candida auris entre 2012 e 2013.

 

O alerta vem do médico Arnaldo Colombo, professor titular de infectologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenador do laboratório especial de micologia, que ajudou a identificar o fungo na Venezuela. No Brasil, ainda não há notícia da chegada do microrganismo.

 

A gente se preocupa muito com bactérias, há sistemas de vigilância para elas mas não para fungos. Muitos hospitais não identificam a Candida. Quando há pacientes infectados por bactérias, mais de 90% deles dão nome e sobrenome para elas. Mas, quando se trata de Candida, menos da metade consegue dar o sobrenome dela.”

 

Colombo lembra que, desde a detecção do surto na Venezuela, a situação de saúde pública só se deteriorou naquele país. “Com o fluxo migratório, existe a possibilidade de a Candida entrar no Brasil e ela não ser reconhecida. Muitos hospitais públicos e privados não estão preparados para essa identificação.”

 

Ele lembra que é fundamental que essa migração seja acompanhada por um sistema de vigilância para detectar eventuais doenças emergentes. “Essa população merece solidariedade e atenção.” O grupo de Colombo participou de edital do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) com um projeto que tinha a meta de vigiar a chegada de novos germes em regiões de fronteira, mas ele não foi aprovado pelo órgão.

 

Agora, a equipe teve aprovação de um estudo pelo comitê de ética do hospital da Unifesp para fazer a vigilância de pessoas internadas em Roraima, na região norte do país. Segundo ele, apesar de a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ter editado norma técnica orientando sobre o diagnóstico da Candida auris, os hospitais mais preparados para isso estão concentrados no sul e no sudeste.

 

Segundo ele, uma das características da Candida aurius é a sua grande capacidade de permanecer em ambiente hospitalar (em objetos e superfícies ou nas mãos dos profissionais, por exemplo). “Pacientes que se infectam ficam colonizados semanas depois de tratados.” Infecções por Candida no ambiente hospitalar são minoritárias em relação às bacterianas - respondem por 5% a 10% das infecções em pacientes internados em UTIs.

 

Como 90% das vezes é bactéria e não Candida, o sistema de saúde prioriza a identificação da resistência bacteriana e negligencia a Candida. Temos pressionado para que se olhe também para os fungos.” Fora dos hospitais, as pessoas podem ser colonizadas transitoriamente por Candida. Mas para o fungo sair da pele ou da mucosa e entrar na corrente sanguínea, a pessoa precisa estar imunodeprimida, hospitalizada e ser submetida a procedimentos invasivos, segundo Colombo.

 

Ele conta que os laboratórios de referência do SUS estão capacitados para identificar esses microrganismos. O da Unifesp, por exemplo, faz a analise genética do fungo (por sequenciamento de DNA). O problema, porém, é que, muitas vezes, o hospital nem suspeita de que está diante da Candida auris e não manda o material para análise. Em 2017, o grupo da Unifesp ajudou a Anvisa a elaborar uma espécie de guia para ajudarem laboratórios e hospitais a reconhecerem o fungo a partir de alguns cenários epidemiológicos. “Os profissionais de saúde estão alertados para isso. Mas o sistema é falho porque não há uma vigilância ativa disso.”

 

Para ele, o temor atual em torno da Candida auris é uma ótima oportunidade para alertar profissionais de saúde de que não é só bactéria que mata o paciente e, ao mesmo tempo, equipar hospitais públicos e privados com tecnologias capazes de lidar com essa situação.



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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