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Problemas de saúde bucal impactam metade dos adultos paulistas

15/03/2019

Problemas de saúde bucal, sobretudo dor de dente, sangramento na gengiva e doença periodontal, são motivo de incômodo para 50,57% dos adultos entre 35 e 44 anos no Estado de São Paulo.

 

O índice, considerado alto por especialistas, foi revelado por um estudo epidemiológico realizado pela Secretaria de Estado da Saúde, com apoio da FAPESP, em 163 municípios paulistas.

 

A Pesquisa Estadual de Saúde Bucal (SB SP 2015) examinou 17.560 pessoas, das quais 6.051 estavam na faixa etária de 35 a 44 anos. Além do exame clínico odontológico, os participantes responderam a um questionário sobre os impactos da saúde bucal em seu dia a dia.

 

A partir desses dados, pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas (FOP-Unicamp) e da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FO-USP) analisaram a associação da qualidade de vida relacionada à saúde bucal (OIDP, do inglês Oral Impacts on Daily Performance) com variáveis socioeconômicas e clínicas. Os resultados publicados em artigo na revista PLOS One identificam carências e vulnerabilidades na população paulista, e indicaram a necessidade de novas políticas públicas.

 

"O resultado é preocupante. O impacto da saúde bucal nas atividades diárias é muito alto no Estado de São Paulo, que tem uma estrutura de serviços públicos em saúde bucal e um PIB maior do que o de outros estados brasileiros. São problemas absolutamente tratáveis e que estão impactando metade dos indivíduos dessa faixa etária", disse Antônio Carlos Pereira, professor da FOP-Unicamp e um dos coordenadores da pesquisa SB SP 2015.

 

No Brasil, o último estudo realizado nacionalmente, em 2010, mostrou que a prevalência de impacto negativo era de 48,1% para adultos de 35 a 44 anos.

 

Em outro estudo semelhante, realizado em Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte, com indivíduos maiores de 21 anos, apenas 16% afirmaram sofrer impacto negativo da saúde bucal. Estudo nacional na Noruega indicou um impacto de 19% na faixa etária de 25 a 44 anos e de 17,9% entre os de 15 a 66 anos.

 

Já Índia (50% dos indivíduos entre 21 e 24 anos) e Tanzânia (51% dos indivíduos com 26 anos) são países com grande impacto negativo da saúde bucal no cotidiano dos habitantes.

 

Inequidades

 

Entre os principais motivos de incômodo encontrados no estudo publicado na PLOS One estão problemas relativamente simples, como dor de dente, sangramento e bolsa periodontal. Esta última doença, em estágio avançado, pode causar abscesso, dor e constrangimento. Trata-se do afastamento entre a gengiva e o dente, gerando acúmulo de placa, o que pode, no futuro, acarretar perda óssea e do dente.

 

“Na população adulta, a dor contribui para o absenteísmo do trabalho e pode afetar as atividades diárias, a produção econômica e o trabalho dos indivíduos”, disse Giovana Renata Gouvêa, pesquisadora da FOP-Unicamp, docente da Fundação Hermínio Ometto (FHO/Uniararas) e autora principal do artigo.

 

Ao cruzar os dados da pesquisa com informações socioeconômicas dos entrevistados, foi possível identificar os estratos da população mais vulneráveis a problemas de saúde bucal. De acordo com os resultados, adultos do sexo feminino, do grupo étnico negro/mulato, com renda familiar de até um salário mínimo e com até oito anos de escolaridade apresentam maior probabilidade de apresentar impacto bucal no desempenho diário.

 

De acordo com Gouvêa, o estudo mostra inequidades em saúde. “Há evidências na literatura científica de que baixa renda e níveis educacionais mais baixos estão associados a uma pior saúde bucal. Em complemento, estudos longitudinais mostram que o nível educacional desempenha um papel mais importante na prevenção do surgimento de problemas de saúde, enquanto a renda tem maior influência no curso ou na progressão dos problemas”, disse.

 

Indicador de qualidade de vida

 

No artigo recém-publicado na PLOS One, os pesquisadores destacam que as doenças orais influenciam na qualidade de vida. “A dor de dente e a perda dentária causam restrições na função, levam ao desconforto e prejudicam o consumo alimentar, enquanto as alterações periodontais, como sangramento e cálculo dentário, afetam a aparência, a autoestima e até as relações sociais dos indivíduos”, afirmam os pesquisadores em artigo.

 

O questionário Oral Impacts on Daily Performances teve por objetivo investigar impactos orais nos aspectos físicos, psicológicos e sociais da vida cotidiana.

 

Faziam parte do questionário perguntas como “Teve dificuldade para comer por causa dos seus dentes?" ou “Sentiu dor nos dentes ao tomar líquido gelado ou quente?". Os pesquisadores também perguntaram se, ao escovar os dentes, o entrevistado sentia algum incômodo, nervoso ou irritação. Foi questionado também se tinha deixado de sair, se divertir, ir a festas ou passeios por causa de seus dentes.

 

“O estudo foi além da questão do dente e pegou todo o contexto de vida (físico, psicológico, social), identificando não só dor ou doenças, mas constrangimentos e abalos emocionais”, disse.

 

Dessa forma, Gouvêa ressalta que o questionário serve como um indicador de qualidade de vida relacionada com a saúde bucal e teve por objetivo medir os impactos significativos das condições bucais na capacidade de o indivíduo realizar determinadas atividades cotidianas, nos aspectos físicos, psicológicos e sociais.

 

“O conhecimento das condições de saúde bucal da população adulta e seu impacto no desempenho diário das atividades é essencial para viabilizar a implementação de serviços e políticas públicas. Esse avanço é particularmente importante para o estudo das desigualdades em saúde, uma vez que os aspectos considerados nessa avaliação não são apenas biológicos e mensuráveis, mas também dizem respeito à autopercepção do indivíduo”, disse Gouvêa.

 

O artigo Variables associated with the oral impact on daily performance of adults in the state of São Paulo: A population-based study(doi: 10.1371/journal.pone.0203777), de Giovana Renata Gouvêa, Jaqueline Vilela Bulgareli, Luciene Luvizotto David, Gláucia Maria Bovi Ambrosano, Karine Laura Cortellazzi, Luciane Miranda Guerra, Antonio Carlos Frias, Marcelo de Castro Meneghim e Antonio Carlos Pereira, pode ser lido em 

https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0203777. 



Fonte: Agência Fapesp | Portal da Enfermagem
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