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Como falar de sexo com crianças e jovens? Para começar, responda às dúvidas deles

13/03/2019

Entre os três e os quatro anos, a criança começa a perceber e descobrir o próprio corpo. É por aí que costumam surgir as perguntas como “de onde vêm os bebês” e “por que meu corpo é diferente do dele [ou dela]”. Muitos pais se arrepiam com a ideia e não sabem por onde começar, mas a receita é simples: seja honesto e respeite o tempo e a curiosidade das crianças. 

 

O​s pais são essenciais na educação sexual de uma criança —sim, criança, pois deve-se começar a conversar sobre o assunto assim que ela mostrar curiosidade. Pais que esperam até a puberdade para tocar no assunto podem já estar atrasados e ter sido “substituídos” por sites e informações de origem duvidosa.

 

“Quando a criança é deixada sem orientação e cuidado quanto ao assunto ela pode acessar fontes não tão boas, incorretas e até perigosas”, diz Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos em sexualidade (Prosex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.

 

Educação sexual é uma forma de tornar o indivíduo mais apto para a vida, não para o sexo. Quando você ensina hábitos de higiene, isso reflete na qualidade de vida”, diz Abdo. “Quem tem uma boa educação sexual acaba entendendo melhor a linguagem do seu corpo, podendo fazer escolhas se deseja ou não um contato, entendendo quais contatos podem não ser positivos e identificando situações de risco.”

 

No Brasil e em outras partes do mundo, o tema ainda é tabu até mesmo na adolescência, quando o corpo passa por mudanças e o interesse pelo assunto cresce naturalmente. O presidente Jair Bolsonaro (PSL), por exemplo, na semana passada, atacou imagens de uma cartilha de saúde adolescente, destinada a jovens de 10 a 19 anos, que mostrava ilustrações de prevenção com camisinha e anatomia feminina. 

 

Bolsonaro afirmou, em vídeo, que pediria para que a cartilha fosse retirada de circulação por ter “figuras que não caem bem para meninos e meninas de nove anos terem acesso”. O presidente disse que uma nova cartilha seria feita, “com menos páginas, mais barata e sem essas figuras”.

 

Nesta terça (12), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que a pasta estuda opção em que haveria um modelo de publicação para pessoas entre dez e 14 anos e outra entre os 14 e 18 anos

 

Polêmicas políticas à parte, do ponto de vista de saúde o mais indicado quando se trata de educação sexual é responder às perguntas da criança. “A dúvida vai ser em relação ao que ela vê em volta ou que ela sente em relação ao próprio corpo, a diferença do corpo dela para outras pessoas, as sensações de contato, e mesmo a parte de genitais, que começam a ter alguma manifestação de ereção nos meninos”, diz Abdo. 

 

As respostas devem ser diretas e compreensíveis, sem ir além do que foi questionado —se a criança quiser saber mais, vai perguntar. Até os sete anos as perguntas tendem a ser generalistas, sobre o próprio corpo. “Depois disso, eles vão viver a sexualidade em relação ao outro. Se até ali você inventou história, a pessoa vai colecionar dúvidas e vai ter tido a informação de algum outro lugar”, diz Renata Toledo, psicóloga da USP. Ou seja, histórias fantasiosas de cegonhas não ajudam. 

 

Claro que não cabe falar a uma criança pequena sobre o ato sexual. Ela não está interessada nisso e provavelmente não vai entender o tema abordado. Mas, lá pelos nove, talvez já queira saber mais a respeito. A psicóloga afirma que, durante a conversa, é bom perguntar à criança o que ela entende daquilo ou que informações já tem para que o diálogo flua melhor.

 

Livros didáticos apropriados em linguagem à idade da criança também ajudam a ilustrar e deixar as respostas menos vagas. O pediatra da criança é uma boa fonte para obter dicas de livros (veja algumas recomendações  dos especialistas ouvidos ao lado).

 

“Se as respostas começam a ser dadas, a criança vai criando um vínculo e fica à vontade para ir resolvendo as suas dúvidas sexuais conforme elas forem surgindo”, diz Abdo. “É importante termos em mente que na cabeça da criança a dúvida não tem a mesma conotação que tem para o adulto. Temos que diferenciar isso. Quando existe uma pergunta é simplesmente porque ela não sabe.”

 

E, quando não se sabe a resposta, não há problema em assumir o desconhecimento e buscar auxílio, diz Luciana Silva, presidente da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).

 

Conversas sobre assédio e abuso, por mais delicado que o assunto seja, também têm que fazer parte da educação sexual. Segundo Toledo, isso pode ser resolvido ao se abordar a questão do afeto. “Carinho é diferente de violência. É preciso esclarecer o que é toque afetivo e o que é abuso, não só físico como moral.”

 

O mais importante é nunca ignorar, repreender ou fingir que as dúvidas não foram levantadas. Os especialistas destacam que a educação sexual ajudará as crianças a tomarem melhores decisões quanto a si mesmo e quanto ao seu corpo, além de prevenir atitudes, situações e relacionamentos de risco, o que inclui prevenção de gravidez na adolescência e doenças.



DÚVIDAS SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL


Educação sexual incentiva a fazer sexo? 
Pesquisas mostram que ser sexualmente educado dificilmente levará à iniciação sexual precoce. O efeito contrário é o mais provável, ou seja, a educação sexual pode retardar o início da vida sexual ou ter efeito nulo


Educação sexual tira a inocência da criança?  
As crianças são beneficiadas por informações apropriadas para sua idade e corretas do ponto de vista científico. Sem essa educação, seja feita em casa ou na escola, o jovem fica exposto a mensagem que podem ser confusas


Educação sexual só pode vir de casa?  
O papel dos pais e da família é fundamental. Mas, ao mesmo tempo, é importante que a escola participe da educação de modo complementar. Além disso, a maior parte dos casos de abuso é cometido por membros da família


Educação sexual é só para adolescentes?  
Educação sexual não se trata só de sexo, mas de todas as formas de relacionamentos. As crianças, mesmo pequenas, já estão cientes das relações ao seu redor e precisam de instrumentos para lidar com seus corpos e sentimentos


Educação sexual quer que as crianças adotem estilos de vida alternativos?  
Basear a educação em direitos é importante para que não haja julgamentos de orientação sexual, identidade de gênero ou comportamentos sexuais. A educação sexual, portanto, auxilia no respeito ao próximo e a si mesmo


Educação sexual ajuda a proteger contra assédio? 
Sim. É importante dizer que os órgãos genitais são um lugar de intimidade, que só ela pode tocar, criar um vínculo de confiança com a criança e abrir espaço para conversas sobre temas que a angustiam e se perguntar: o que causaria uma mudança significativa no jeito da criança?



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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