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Poluição do ar mata mais que cigarro

26/11/2018

 

Quiz sobre saúde: qual dos problemas a seguir prejudica mais a expectativa de vida no mundo –terrorismo e conflitos, acidentes de trânsito, falta de saneamento básico, álcool e dependência química ou tabagismo?

 

 
Resposta correta: nenhuma das anteriores. Em realidade, a maior ameaça para a saúde da população terrestre é a poluição do ar, em especial o material particulado (como poeira e fuligem). Sozinha, ela diminui em 1,8 ano a expectativa de vida, na média global.

 

O dado estarrecedor consta do estudo “Introducing the Air Quality Life Index” (apresentando o Índice de Vida e Qualidade do Ar). O trabalho foi compilado por Michael Greenstone e Claire Qing Fan, da Universidade de Chicago.

 

Entenda-se que isso não significa que cada pessoa viverá 1,8 ano a menos. Crianças que morrem nos primeiros meses ou anos de complicações respiratórias provocadas por material particulado —seriam mais de 600 esses casos fatais, a cada ano, só no Brasil— contribuem para reduzir de modo drástico a expectativa de vida.

 

O único fator a rivalizar o malefício da qualidade do ar, tabagismo, também ataca os pulmões. Ele retira 1,6 ano da média de anos que as pessoas têm para viver. As outras condições citadas ficam muito atrás dos dois flagelos. Terrorismo diminui a média em apenas 22 dias, como seria de esperar para um fenômeno de escala local. Já acidentes de trânsito assumem feição de problema de saúde pública: 4,5 meses a menos.

 

Pouco acesso a água tratada e a esgotos recolhidos e tratados causam estrago maior, de 7 meses. Álcool e drogas, algo ainda pior, com 11 meses. Note que em nenhum desses casos se ultrapassa a marca de um ano completo, como no caso da poluição atmosférica.

 

Mede-se a qualidade do ar com base em vários parâmetros, como as concentrações de ozônio, monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio. Dá-se atenção especial ao particulado porque a poeira mais fina penetra nos alvéolos pulmonares e pode desencadear câncer e doenças cardíacas.

 

A situação do Brasil até que não é das piores. Segundo o relatório de Greenstone e Fan, apenas 0,2 ano se acrescentaria à expectativa de vida por aqui se o máximo de material particulado recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) fosse obedecido no país todo. Médias, entretanto, podem revelar-se enganosas. No estado de São Paulo, já se estimou em mais de 11 mil as mortes precoces, a cada ano, resultantes da poluição do ar.

 

Um exemplo: na estação medidora de Pinheiros, bairro da capital paulista, o índice de material particulado MP10 esteve ininterruptamente acima do recomendado pela OMS (50 microgramas por metro cúbico, mg/m3) de 2000 a 2015; a menor média, de 2007, ficou em 74 mg/m3.

 

Ainda mais alarmante se mostra a situação em nações como Índia e China. No primeiro caso, os indianos viveriam 4,3 anos mais, em média, se o padrão OMS fosse implantado. Em Nova Déli, uma capital que tem ar de péssima qualidade, a parcela de vida subtraída alcança nada menos que 10 anos. Na média, repita-se.

 

Na China, o dano para a população seria de 2,9 anos, informa o relatório. Em Pequim, 6 anos. Mas metrópoles de países ricos também sofrem com material particulado, como Los Angeles, nos EUA: angelinos recuperariam 1 ano inteiro se o ar não fosse tão ruim.

 

Em países como Índia e China, pesa nas estatísticas mórbidas o fato de que muita gente ainda cozinha com lenha dentro de casa. A poluição doméstica, sobretudo fuligem, acaba sendo pior para a saúde, localmente, que a de distantes metrópoles.

 

Nesses casos, fogareiros de metal projetados para substituir tradicionais queimadores feitos de argila podem cortar a fumaça em 80%. Nas grandes cidades do mundo, contudo, a solução seria disseminar transportes públicos e eletrificar toda a frota –de quebra ajudando a conter a mudança do clima.


Marcelo Leite - Jornalista especializado em ciência e ambiente, autor de “Ciência - Use com Cuidado”.



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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