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Edição genética de embriões é considerada ética por organização britânica

19/07/2018

O Conselho Nuffield de Bioética, uma importante organização independente do Reino Unido, chegou à conclusão que editar o genoma de embriões e de células germinativas (óvulos e espermatozoides) pode ser eticamente aceitável em algumas circunstâncias.

 

Uma das condições que justificariam a prática seria a busca pelo bem-estar daquele que ainda vai nascer. Outra é que, com a aplicação das técnicas de edição, não haja ampliação de discriminação, injustiça ou divisões na sociedade.

 

A legislação vigente no Reino Unido, porém, ainda proíbe esse tipo de intervenção. De acordo com o Conselho Nuffield, esse status legal só deveria mudar após um longo debate entre os setores da sociedade e com a implementação de medidas robustas para garantir que os princípios citados acima sejam seguidos.

 

Outro ponto, de acordo com a instituição, é que cada caso deveria ser avaliado individualmente, em um processo finamente regulado pelas autoridades governamentais, com acompanhamento de longo prazo e no contexto de estudos clínicos. E tudo isso só teria sentido se, e somente se, houvesse muito mais pesquisas que estabelecessem a segurança desse tipo de procedimento.

 

Edição genética é o termo utilizado quando nos referimos às mudanças intencionais em sequências de DNA, espécie de livro da vida que reside nas célula de seres vivos e que contém instruções para que organismo consiga construir-se e manter-se vivo.

 

Ao mudar o que está escrito nesse livro, seria possível corrigir, por exemplo, a sequência de uma proteína que permite com que o músculo não se destrua durante seu processo de contração. Estou falando da distrofina, cuja função é prejudicada em doenças como a distrofia muscular de Duchenne.

 

Em vez de morrer na faixa dos 20 ou 30 anos por falência cardíaca ou respiratória, futuros bebês com a alteração genética poderiam ter uma vida normal, se seus DNAs fossem corrigidos com alguma técnica de edição antes mesmo de eles nascerem.

 

O raciocínio vale para predisposição aos mais diversos tipos de câncer (o leitor se recorda do caso de Angelina Jolie?) e para doenças neurodegenerativas como Alzheimer precoce. Moléstias complexas como obesidade e diabetes também têm componentes genéticos e poderiam entrar na ciranda, a depender de mais estudos. Ao menos hipoteticamente, muito sofrimento poderia ser evitado.

 

“Há grandes avanços acontecendo na pesquisa genômica. Ao mesmo tempo em que nós temos de admitir que não são só os genes que definem uma pessoa, a possibilidade de usar a edição gênica para garantir ou evitar que uma criança tenha certas características oferece uma nova abordagem radical que provavelmente terá grande apelo entre futuros pais.”, diz David Archard, presidente do Conselho Nuffield e professor de filosofia da Queen’s University Belfast, em nota.

 

“Pode haver boas razões para permitir algumas preferências dos pais, mas precisamos ter cuidado para que o uso da edição do genoma não aumente a desigualdade social, a discriminação ou a divisão, além de acompanhar de perto todos os envolvidos e especialmente qualquer criança que nasça como resultado do procedimento”, conclui.

 

Apesar de as possibilidades parecerem animadoras, pelo menos por ora não há muitos motivos para empolgação. Um estudo publicado na segunda (16), na revista Nature Biotechnology, alerta que uma das técnicas mais modernas de edição de DNA, o Crispr-cas9, não é tão seguro quanto se supunha, gerando deleções inesperadas e rearranjos complexos –a dose de imprevisibilidade é alta.

 

Sempre há o risco de se mexer na parte errada do genoma, como em um gene que inibe a formação de tumores. Se ele não estiver íntegro e talvez por qualquer outro azar somado a isso, a célula pode começar a se replicar e, não muito tempo depois, gerar um câncer.

 

E essas alterações do DNA –desejadas ou não– são herdáveis. Ou seja, eventuais incorreções podem se propagar por gerações e gerações humanas. Isso fora o risco não negligenciável de haver casais e governos interessados em bebês modificados para terem determinadas características atléticas e estéticas, por exemplo.



Fonte: Folha de São Paulo | Portal da Enfermagem
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