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Nos EUA, cientistas começam a endurecer regras contra assédio

21/02/2018

Assim como a indústria do entretenimento americana, o meio científico também tenta encontrar formas de combater casos de assédio sexual. Durante a reunião anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), o principal encontro científico dos EUA, pesquisadores discutiram sobre enquadrar o assédio como uma das más condutas científicas —as três principais hoje são plágio, manipulação de dados e criação de dados falsos.

 

Shirley Malcom, da área de educação e recursos humanos da AAAS, afirmou à Folha que a discussão já havia sido engatilhada no passado, mas a ideia de colocar abusos e questões de autoria na mesma esfera não avançara pelo impacto que poderia trazer —por exemplo, retratação pública de pesquisas e perda de verbas de pesquisa.

 

Mas, segundo Malcom, o recuo não leva em conta o impacto do assédio sobre a pesquisa, seus resultados, sua publicação —com a possível omissão de autores— a desistência em perseguir o estudo ou até mesmo a carreira científica.

 

O combate ao assédio sexual, porém, já começou a avançar dentro da NSF (National Science Foundation), agência federal americana destinada ao progresso da ciência. No início do mês, a instituição divulgou comunicado dizendo que não tolera assédio sexual ou de qualquer tipo e anunciou que, se um professor que recebe uma bolsa da NSF for condenado por má conduta sexual, essa informação terá que ser transmitida à agência. Mais de 2.000 universidades, faculdades e instituições americanas recebem fundos da NSF.

 

Segundo Meg  Urry, diretora do centro de astronomia e astrofísica da Universidade Yale, nos EUA, a possibilidade de perder financiamentos pode ser uma boa forma de impedir abusos. "As pessoas vão se importar com isso. Haverá muito mais cuidado", diz. "Não há consenso sobre como atacar o problema no momento, mas acho que esse é o caminho que temos que seguir", afirma Urry. "A NSF deu o primeiro passo."

 

As universidades também terão que avisar a agência caso afastem os cientistas para investigação de caso de assédio sexual. Tanto os pesquisadores como as instituições correrão o risco de perder o financiamento.

 

Billy Williams, representante da AGU (American  Geophysical  Union), afirmou que sua associação também atualizou o código de ética. Más condutas em relação aos profissionais agora são classificadas como más condutas científicas. "Na AGU, assédio, bullying e discriminação fazem parte das más condutas científicas", diz Williams. A mudança também torna mais difícil conceder honrarias a pessoas acusadas de algum tipo de desvio de ética.

 

Premiações e promoções dentro da associação eram oferecidas em consideração ao mérito científico. A partir de agora, essas discussões incluirão também a conduta profissional. Os cientistas também pedem maior esclarecimento sobre as regras para o relacionamento entre professores e estudantes, muitas vezes obscuras.

 

Para Meg  Urry, é preciso "vacinar" as mulheres que querem trabalhar no ambiente acadêmico —as dificuldades vão além do assédio, afirma. "Você será menosprezada, terá menos chances de ser contratada ou receber mentoria, terá menos chances de ser nomeada para prêmios, terá dificuldades para receber financiamentos e o seu trabalho será citado com menos frequência."


CUIDADOS

 

No debate no encontro da AAAS, porém, pesquisadores pediram que haja gradações entre os diferentes tipos de má conduta, das mais leves às mais graves, para não necessariamente arruinar a carreira de pessoas acusadas. Urry afirmou que a discussão não deve caminhar para extremos, "no qual todo mundo deve ser demitido". "Há gente ruim por aí, que sistematicamente tirou vantagem de pessoas por diferenças de poder na relação. Mas às vezes erramos ao igualar atores ruins a pessoas terríveis", disse Malcom.

 

Sem muitas soluções concretas sobre como atacar o problema, o debate levantou a hipótese de que seja oferecido aos acadêmicos um treinamento para comportamento ético no meio científico além de uma mera burocracia. Uma maior responsabilização das universidades também foi cobrada.

 

Atitudes para quem está sofrendo com diferentes tipos de assédio também foram propostas, como falar mais sobre o assunto e denunciar abusos, deixando claro que a situação é desconfortável —adjetivo que também pode descrever o tom geral do debate na reunião da AAAS. "Gosto de me considerar uma pessoa razoável, e estou apavorado", disse um pesquisador sobre o receio de cruzar ou já ter cruzado os limites do assédio sem perceber. "Se a sua reação ao tema é essa, você provavelmente deve ter motivo para se sentir assim", respondeu uma pesquisadora.



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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