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Brasileiros usam realidade virtual para diagnosticar alzheimer precocemente

15/01/2018

Um novo exame pretende diagnosticar a doença de Alzheimer de maneira precoce, fazendo com que os pacientes memorizem e repitam percursos de até um quilômetro pelo Hospital das Clínicas. em São Paulo. Para fazer o teste, contudo, não é preciso dar nenhum passo nem sair do consultório médico.

 

O método, chamado Soivet (Teste de Orientação Espacial em Ambiente Virtual Imersivo, na sigla em inglês), é resultado de uma pesquisa de doutorado em neurologia na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e usa a realidade virtual para simular os ambientes percorridos.

 

O objetivo é avaliar a capacidade do paciente para se localizar e encontrar caminhos. A desorientação espacial é indicativo do comprometimento cognitivo leve, um dos primeiros sintomas da doença de Alzheimer. Quanto mais precocemente o diagnóstico for feito o, maiores serão as chances de tratar os sintomas corretamente e retardar a evolução da enfermidade.

 

Para fazer o exame, o paciente se senta em uma cadeira giratória, veste os óculos de realidade virtual e "caminha" pelo hospital com a ajuda de um controle semelhante ao de um videogame. Para olhar ao redor, basta mover a cabeça.

 

Uma instrutora virtual acompanha o paciente em sua primeira caminhada, indicando determinados "checkpoints" no cenário. Na segunda vez, a pessoa deve repetir o percurso sozinha, alcançando os mesmos lugares. Em outra etapa, o paciente deve encontrar o caminho para sair de um labirinto virtual. O programa foi desenvolvido por uma start-up de ex-alunos da USP, que se basearam em fotos e na planta baixa do Hospital das Clínicas.

 

ETAPAS

 

Até o momento, o Soivet só foi aplicado a pessoas saudáveis de 18 a 55 anos, que tiveram seu desempenho avaliado. Na próxima etapa, o programa será testado com idosos saudáveis. Em um terceiro momento, acontecerá a aplicação a idosos com alzheimer, para comparar as performances e testar a efetividade do método. "Nossa hipótese é que pacientes com comprometimento cognitivo leve vão errar antes os caminhos, se atrapalhar mais", disse a médica Raquel Quimas, responsável pela pesquisa.

 

Outro motivo para que o programa seja testado primeiramente com pacientes mais jovens são os possíveis efeitos adversos do ambiente virtual. O atraso entre o movimento da cabeça e a imagem projetada, mesmo que imperceptível, pode gerar náuseas e tonturas para algumas pessoas.

     
 

 

Este repórter passou pelo exame sem experimentar qualquer sensação desagradável. Os gráficos não são exatamente realistas, o que não impede a imersão na experiência, que chega a ser divertida e se parece muito com os jogos de entretenimento com realidade virtual.

 

A finalidade do Soivet é substituir as baterias de exames que existem atualmente, feitas com papel e caneta. "O teste com realidade virtual é mais fidedigno às situações que o paciente encontra na vida real. Fazer um labirinto no papel não representa a forma como você se orienta no cotidiano", diz Quimas.

 

NOVA TECNOLOGIA

 

A intenção de aplicar a realidade virtual à medicina não é recente. As primeiras tecnologias surgiram na década de 50 e foram usadas pela Força Aérea dos EUA para simular voos. No entanto, os aparelhos eram pesados e caros.

 

Nos anos 1990, houve uma segunda onda de inventos com realidade virtual, nos quais foram realizados experimentos médicos. Mas o custo ainda alto e a baixa qualidade da imagem impediram maiores avanços. Agora, é possível desenvolver programas suficientemente realistas, que rodam em aparelhos acessíveis, o que tem levado a um novo "boom" nas pesquisas na área.

 

"Estamos vivenciando uma terceira onda de realidade virtual, com inúmeras novas ideias. Finalmente a tecnologia acompanha o que nós queremos", afirma Quimas. "É um campo enorme e muito empolgante." Além da neurologia, outras especialidades médicas também têm se beneficiado dessa tendência tecnológica para desenvolver exames e tratamentos só possíveis dentro do universo virtual.

 

Na psiquiatria, a realidade virtual permite o tratamento de fobias por meio da exposição gradual. Um paciente com medo de voar, por exemplo, pode entrar em um avião e enfrentar sua fobia dentro do consultório, algo impensável há poucos anos.

 

A tecnologia também tem sido aplicada à fisioterapia, para tornar os tratamentos mais dinâmicos e menos monótonos. Segundo o fisioterapeuta José Eduardo Pompeu, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação da FMUSP, esse método tem aumentado o engajamento dos pacientes na terapia e, consequentemente, melhorado os resultados.

 

"Com a realidade virtual, podemos juntar tarefas motoras e cognitivas, o que pode ter um resultado superior ao do treinamento motor isolado", afirma Pompeu, um dos orientadores da pesquisa do Soivet. "A pessoa se sente em um videogame, quer melhorar sua pontuação, e isso aumenta a motivação".

 

PRÓXIMOS PASSOS

 

O Soivet terá sua efetividade como diagnóstico testada neste ano. Caso seja efetivo, a intenção dos pesquisadores é que o programa chegue ao mercado por meio de um aplicativo que poderá ser baixado por neurologistas pelo celular. "Um médico poderia ter o aplicativo e os aparelhos e aplicar o teste rapidamente em seu consultório", afirma Raquel.



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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