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Mulher nos EUA é primeira a dar luz à luz com útero transplantado

06/12/2017

Pela primeira vez uma mulher que recebeu um transplante de útero deu à luz um menino, nos Estados Unidos. A mulher, que nasceu sem útero, recebeu um transplante de uma doadora viva em 2016, no centro médico da Universidade Baylor, em Dallas, e o hospital anunciou na sexta-feira (1º) que no mês passado ela deu à luz um menino.

 

A pedido da família, seu nome, a cidade em que eles vivem e a data de nascimento da criança não serão revelados, para proteger a privacidade da família, de acordo com Julie Smith, porta-voz do hospital, que é parte da rede Baylor Scott & White Health. De 2014 para cá, outros oito bebês nasceram de mulheres que receberam transplantes de útero, todos na Suécia, no Hospital Universitário Sahlgrenska, em Gothenburg.

 

Os transplantes de útero são uma nova fronteira, e uma fonte de esperança para mulheres que não podem conceber porque nasceram sem o órgão ou tiveram de passar por uma remoção em função de câncer ou outras doenças, ou até mesmo por complicações no parto. Pesquisadores estimam que 50 mil mulheres podem ser candidatas ao procedimento nos Estados Unidos.

 

Os transplantes são considerados como temporários. A mulher manterá o útero transplantado por tempo suficiente para ter um ou dois filhos, mas o órgão será removido posteriormente para que ela possa deixar de tomar os medicamentos de supressão das defesas imunológicas necessários para evitar rejeição.

 

Liza Johannesson, cirurgião de transplante de úteros que deixou a equipe pioneira do procedimento na Suécia para trabalhar na Universidade Baylor, disse que o parto em Dallas era especialmente importante por demonstrar que o sucesso com a técnica não acontecia apenas no hospital de Gothenburg.

 

"Para fazer com que o campo cresça e se expanda, e levar o procedimentos a mais mulheres, é preciso que ele seja replicado", ela disse, acrescentando que, horas depois do anúncio do hospital americano, grupos de ativistas que trabalham em prol das mulheres que sofrem de infertilidade uterina em todo o mundo já a haviam contatado para expressar sua empolgação com a notícia. "É um nascimento muito empolgante", disse Johannesson. "Já presenciei muitos partos e já trouxe muitos bebês ao mundo, mas esse foi muito especial".

 

No hospital da Universidade Baylor, oito mulheres passaram por transplantes, entre as quais a mãe do bebê recém-nascido, em um teste clínico projetado para abranger dez pacientes. Uma das transplantadas está grávida, e duas outras –uma das quais recebeu um órgão de uma doadora morta– estão tentando engravidar. Quatro outros transplantes fracassaram depois da cirurgia, e os órgãos tiveram de ser removidos, disse Giuliano Testa, pesquisador chefe do projeto e diretor cirúrgico de transplantes abdominais no hospital da Universidade Baylor.

 

"Tivemos um começo muito difícil, mas depois encontramos o caminho certo", disse Testa em entrevista por telefone. "De certa forma, quem pagou por isso foram as três primeiras pacientes. Sinto-me muito grato por sua contribuição, mais do que posso expressar".

 

Tanto Johannesson quanto Testa disseram que boa parte de sua motivação veio de conversas com pacientes que os levaram a compreender o quanto elas sofriam ao descobrir que não poderiam ter filhos. Testa disse "crer que muitos homens jamais serão capazes de compreender essa questão plenamente, o desejo dessas mulheres de serem mães. O que comove a todos nós é ver uma mãe com o bebê no colo, depois de um dia ela ter sido informada de que não poderia ter filhos".

 

Os transplantes são um procedimento experimental, por enquanto, e boa parte de seu custo é coberto por verbas de pesquisa. Mas são dispendiosos e, caso se tornem parte da prática médica, seu preço provavelmente será de centenas de milhares de dólares. Não se sabe se as operadoras de planos de saúde cobrirão esse custo, e Testa reconheceu que muitas das mulheres que podem desejar a cirurgia não terão condições de bancá-la.

 

Outro hospital, o Cleveland Clinic, realizou o primeiro transplante de útero nos Estados Unidos, em fevereiro de 2016, mas o procedimento fracassou depois de duas semanas, por conta de uma infecção que provocou uma hemorragia e colocou em risco a vida da paciente, requerendo cirurgia de emergência para a remoção do órgão. O hospital suspendeu seu programa de pesquisa, mas ele foi reiniciado, e já há pacientes à espera de transplantes, informou a porta-voz Victoria Vinci. A mulher que deu à luz no hospital da Universidade Baylor foi a quarta paciente a receber um transplante no local, em setembro de 2016.

 

O processo é complicado e tem riscos consideráveis para a doadora e a transplantada. As doadoras passam por uma cirurgia de cinco horas que é mais complexa e remove mais tecidos do que uma histerectomia (cirurgia de remoção de útero) comum. A cirurgia para transplantar o órgão também é difícil, e de certa maneira pode ser comparada à de transplante de fígado, disse Testa.

 

As transplantadas têm de encarar os riscos da cirurgia e dos remédios contra rejeição do órgão transplantado, por uma cirurgia da qual elas não precisam para salvar suas vidas, ao contrário do que acontece com alguns pacientes de falência cardíaca ou hepática. As gestações são classificadas como de alto risco, e o parto precisa ser por cesariana, para evitar desgaste excessivo do útero transplantado. Até agora todos os nascimentos ocorreram um pouco antes das 40 semanas normais de gestação –entre a 32ª e a 36ª semana.

 

As mulheres que recebem transplantes não podem conceber da maneira natural, porque seus ovários não estão conectados ao útero, e não há maneira de o óvulo chegar ao útero. Antes do transplante, elas passam por um tratamento hormonal que faz com que seus ovários produzam múltiplos óvulos, que são colhidos, fertilizados e congelados.

 

Quando a paciente se recupera plenamente da cirurgia e começa a menstruar, os óvulos podem ser implantados em seu útero, um por vez, até que ela engravide. Na Suécia, os médicos esperam por um ano depois do transplante antes de tentar iniciar uma gestação, o que dá tempo para que a mulher se recupere. Na Universidade Baylor, a equipe trabalha muito mais rápido, e começa a tentar engravidar as pacientes poucos meses depois da cirurgia, logo que elas começam a menstruar.

 

Testa disse que foi ideia dele começar as gestações logo, porque as mulheres eram jovens e saudáveis e não precisavam de um ano de recuperação. Ele argumentou que o tempo de espera as expõem por mais tempo que o necessário aos medicamentos contra rejeição, que têm fortes efeitos colaterais. "Decidimos encurtar o processo", ele disse. "E acho que tínhamos razão."

 

Ele e Johannesson disseram que a equipe sueca e outros centros que estão planejando transplantes de útero também começaram a considerar a hipótese de uma espera mais curta.



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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