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Transplante de coração evoluiu pouco desde sua criação

15/10/2017

Quando o estudante de direito Matheus Melo de Magalhães, 24, cruzou a linha de chegada de uma caminhada realizada no domingo, dia 8, na Chácara do Jockey, em São Paulo, realizava um feito. Não só por ter viajado durante a madrugada, de Pouso Alegre, Minas Gerais, e mal ter dormido antes de estar pronto para caminhar às 7h. Matheus, para completar a prova, também acelerou o terceiro coração que passa por seu peito. "Tô dando conta", afirma o estudante, que já passou por dois transplantes cardíacos no Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da USP.


O Programa de Transplante Cardíaco Pediátrico do Incor completa 25 anos de existência neste mês e, para comemorar a data, promoveu a caminhada com dezenas dos pacientes que passaram pelo procedimento.

 

"A cirurgia é praticamente a mesma desenvolvida na década de 1960, com poucas mudanças", diz Marcelo Biscegli Jatene, diretor da Divisão de Cirurgia Cardíaca Pediátrica do Incor. O que mudou foi a logística de obtenção de órgãos.Criado em 1992, o centro celebrou em 2011 sua centésima operação. Nos seis últimos anos, a quantidade mais do que dobrou: "Foram 202 transplantes e dez retransplantes, como o que Matheus fez em 2015", afirma Estela Azeka, cardiopediatra responsável pela área clínica do programa. Ela está lá desde a primeira cirurgia do grupo.

 

O hospital hoje tem uma verba pública para fretar aeronaves para ir buscar um coração ideal, além de uma rede centralizada de dados dos órgãos que se tornam disponíveis para transplantes. Uma viagem fica entre R$ 20 mil e R$ 30 mil. A média de 15 transplantes cardíacos infantis por ano coloca o hospital como o maior centro do tipo no Brasil. Mas ainda não é suficiente. "A gente consegue transplantar bem menos da metade dos que precisam", diz Jatene.

 

Isso acontece, interpretam os médicos, porque a procura pelo serviço aumentou junto com sua eficiência. A fila, que até anos atrás ficava abaixo de dez nomes, está com 29 –cinco deles em regime de prioridade. De 40% a 50% das pessoas na fila morrem por ano antes de conseguir chegar à sala de cirurgia.

 

Além da oferta abaixo do que seria o ideal, esse tipo de operação exige agilidade em trazer o órgão até quem necessita dele. "É uma tourada", diz Azeka, que ressalta a importância de campanhas incentivando doações de órgãos. "Toda vez que tem uma, na semana seguinte aumenta o número de opções."

 

Não é um trabalho fácil achar o coração adequado para cada paciente. Dos 42 doadores disponíveis em setembro e agosto, 7% dos órgãos disponíveis puderam ser usados. "É uma questão muito personalizada. Tem que levar em conta a diferença de tamanho do órgão, se as condições do coração não são ideias ou a logística não funciona", diz Jatene.

 

Uma das pessoas que espera com urgência é Jhonatan Alves Freitas, 24. Ele teve de deixar seu emprego, em Londrina, no Paraná, e se internar. "É difícil de falar. Sua vida para. Tenho duas filhas, mulher, tudo isso fica em suspenso. Tem que ter fé e paciência."

 

Cerca de 60% dos pacientes estão vivos 15 anos após receber um novo coração. A expectativa da maioria não passa de meses quando são colocados na fila. "Nossos resultados são semelhantes aos das maiores instituições do mundo", afirma Roberto Kalil, presidente do Incor.

 

Há hiatos de meses sem transplantes, por falta de órgãos adequados ou que possam ser coletados a tempo. O que leva a escolhas. "Há dilemas éticos. Quem você vai priorizar, o retransplante ou alguém que ainda não teve a oportunidade? É duro", afirma Jatene.

 

Matheus, que encontrou muitos colegas transplantados com quem só tem contato no Facebook ou no grupo de Whatsapp, responde se pensa que sua vida é diferente por já estar no terceiro coração. "Você com certeza caiu em algum momento da vida e tem uma cicatriz. Você pensa nela o tempo inteiro? Eu também não penso na minha o tempo todo."



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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