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Corujão de Doria é paliativo e não resolve questões cruciais da saúde

11/01/2017

O programa Corujão da Saúde começou nesta terça (10) em quatro hospitais de São Paulo e já enfrenta entraves. O primeiro é que várias pessoas que estão na fila de espera de exames não são encontradas pelas equipes.

 

Existe também o temor de que haja altas taxas de absenteísmo, o que já ocorre em algumas unidades públicas. Outra questão é que os pacientes que realizarem seus exames agora não terão o problema de saúde resolvido de imediato em razão da falta de especialistas e de vagas para a realização de cirurgias.

 

A gestão do prefeito João Doria (PSDB) planeja uma nova etapa do Corujão com a meta de acelerar a realização de consultas e cirurgias. A questão é que o Corujão é uma medida paliativa, resolve temporariamente as queixas de um grupo de pessoas (e isso é bom), mas não ataca os problemas cruciais que geram as filas de espera, como falhas na atenção básica de saúde e falta de integração e hierarquização entre as unidades assistenciais.

 

Em seu programa de governo, Doria promete, por exemplo, "reforçar o atendimento primário à saúde pelo preenchimento das vagas existentes nas equipes do Programa de Saúde da Família e das Unidades Básicas de Saúde, requalificando e valorizando os profissionais". Mas ainda não disse como e quando isso vai acontecer.

 

Hoje o paciente fica perdido dentro de um labirinto de unidades de saúde municipais e estaduais, administradas por várias organizações sociais (OSs) que, muitas vezes, não conversam entre si. A confusão é tão grande que mesmo essa fila de quase 500 mil pedidos de exames que o Corujão pretende zerar em 90 dias é questionada por alguns especialistas. É muito comum as pessoas se inscreverem em vários serviços de saúde e, quando conseguem uma vaga num lugar, o nome continua no outro.

 

Uma das promessas de Doria é a integração dos sistemas municipais e estaduais de saúde, mas a proposta ainda não foi detalhada. A falta dessa integração gera bizarrices como a fila de 500 mil pessoas à espera de exames na rede municipal, enquanto existem AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades), ligados ao governo estadual, com taxas de absenteísmo de 30%.

 

Até agora, as únicas integrações anunciadas pela gestão municipal foram dos números de emergência 190, 192 e 193 (haverá apenas um número na cidade) e do empréstimo de quatro carretas de um programa estadual para ajudar a reduzir a fila de exames.

 

Para especialistas, as carretas são uma reinvenção dos mutirões e, portanto, mais um paliativo. Fica muito mais barato oferecer esses serviços em unidades fixas, de modo a incluir esses pacientes no sistema para serem cuidados de forma contínua.

 

Um exemplo citado é o caso dos mutirões de oftalmologia. O paciente faz exame, recebe tratamento, mas, se o problema foi causado por diabetes, precisará ser acompanhado na atenção primária para manter a doença sob controle. Do contrário, pode ficar cego, sofrer amputações, além de outros danos.

 

Se a cidade perseguir uma atenção primária que funcione de fato, com a ampliação e qualificação das equipes de saúde da família, por exemplo, a demanda por especialistas, exames e internações tende a ser menor. Até 80% das queixas podem ser resolvidas na atenção básica, caso ela seja mais resolutiva.

 

Por que então a atenção primária não foi eleita como prioridade? Talvez porque não dá visibilidade. É como falar em investir em saneamento básico para combater o mosquito Aedes aegypti. A boa notícia é que Doria está cercado de bons técnicos e há tempo de sobra para a equipe realizar as mudanças que o sistema necessita.

 



Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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