Na era dos aplicativos de paquera e dos anticoncepcionais, será que a seleção natural ainda afeta a maneira como as pessoas escolhem seus parceiros? Ao menos em parte, a resposta é sim, revelam dois estudos assinados por pesquisadores brasileiros – embora mudanças culturais recentes também sejam capazes de afetar preferências românticas.
Um dos trabalhos mostrou, por exemplo, que os homens ainda dão mais importância à aparência física quando buscam uma namorada, enquanto as mulheres tendem a preferir sujeitos com melhores perspectivas financeiras – uma assimetria já prevista pelas abordagens evolucionistas do comportamento humano. O outro levantamento, por sua vez, indica que a diferença tradicional de tamanho entre os sexos – ou seja, a ideia de que o homem "deve" ser mais alto que sua parceira – ainda é a regra.
Se os resultados parecem estereótipos do relacionamento entre homens e mulheres, é importante lembrar que, no caso do primeiro estudo, os pesquisadores também verificaram que ambos os sexos dão muito menos peso à virgindade do possível parceiro ou à sua vontade de ter filhos, diferentemente do que acontecia 30 anos atrás.
Já o segundo trabalho também avaliou casais homossexuais (formados tanto por homens quanto por mulheres), verificando que, entre eles, a diferença de tamanho só é importante quando um dos membros do casal domina o relacionamento.
"Os dados, de certa forma, reforçam estereótipos, mas não necessariamente os justificam", argumenta André Souza, brasileiro que trabalha na Universidade do Alabama e é autor de um dos levantamentos. "Se eu fizer um estudo mostrando que beber e dirigir causa acidentes, não estou dizendo que tem de ser assim. Entender as forças que motivam nossos comportamentos deve ser o primeiro passo na tentativa de mudar ou influenciar esses comportamentos."
DARWIN EXPLICA?
Ambos os trabalhos adotam os pressupostos da chamada psicologia evolucionista, um ramo de pesquisa que busca usar a teoria da evolução como ferramenta para compreender a mente humana.
O ponto de partida da ideia é simples: assim como todos os outros animais, a espécie humana foi forjada pela seleção natural, num processo que favoreceu os indivíduos com maior capacidade de sobreviver e, sobretudo, de se reproduzir. E não há nada mais crucial para a reprodução de espécies sexuadas (como a nossa) do que a escolha de parceiros. Ou seja, faz sentido esperar que esse "pedaço" do comportamento humano seja especialmente influenciado pelas pressões da seleção natural.
Souza e seus colegas americanos David Buss e Daniel Conroy-Beam, da Universidade do Texas em Austin, decidiram comparar as preferências de parceiros de 1.186 homens e mulheres do Brasil (com idade média de 27 anos), entrevistados em 2014, com os de um grupo de 630 brasileiros e brasileiras (idade média: 22 anos) ouvidas em 1984. Os 30 anos que separam um grupo do outro são um "experimento natural" interessante, ajudando a inferir a relação entre diferenças nas respostas e possíveis mudanças culturais ao longo desse período.
Para começo de conversa, no entanto, uma coisa não mudou: homens ainda preferem moças mais jovens, enquanto garotas ainda ficam de olho em rapazes mais velhos. "A pressão 'evolucionista' é a mesma para ambos os sexos: procriar da maneira mais bem-sucedida possível", resume Souza. "Um cara mais velho tem mais chances de ter um bom emprego e consequentemente mais recursos para prover. E mulheres mais novas têm mais chance de ser férteis e saudáveis."
Esse mesmo raciocínio básico parece explicar outra constante: a atenção especial dada pelo sexo masculino à beleza, e a preocupação maior do sexo feminino com a estabilidade financeira do parceiro, diz ele. Por outro lado, nos anos 1980, em média, ambos os sexos viam a intenção de ter filhos como algo quase indispensável. Três décadas depois, porém, a tendência é classificar isso como algo "desejável, mas não muito importante" nas entrevistas - o que indica que as motivações ligadas à seleção natural não "controlam a mente" das pessoas, mas apenas as influenciam de maneira relativamente sutil e inconsciente.
MAIOR É MELHOR
Pode-se dizer que o segundo estudo é, ele próprio, fruto de uma escolha de parceiros. Dois de seus autores são a tcheca Jaroslava Varella Valentova, hoje professora do Instituto de Psicologia da USP, e seu marido, o brasileiro Marco Antonio Varella. Os dois se conheceram em congressos internacionais da área e acabam de ter seu primeiro bebê (uma menina).
O casal e seus colegas obtiveram dados de 1.709 pessoas, de ambos os sexos e de diferentes orientações sexuais (homens e mulheres hétero, gays e lésbicas), que viviam no Brasil e na República Tcheca. Os participantes viam diagramas mostrando possíveis alturas relativas (suas e de seus parceiros) e tinham de indicar as que preferiam e as que realmente tinham em seus relacionamentos de longo prazo atuais.
No caso dos heterossexuais, tanto as preferências quanto os parceiros reais mostraram um padrão claro: cerca de 80% dos homens namoravam ou estavam casados com mulheres mais baixas, enquanto cerca de 90% das mulheres se relacionavam com homens mais altos (os dados das preferências são bem parecidos). O tamanho maior tinha uma correlação considerável com o papel dominante do membro do casal – quanto mais alto em relação ao parceiro, mais ele tendia a estar no controle da relação.
No caso dos casais de gays e lésbicas, a proporção de quem tinha um parceiro do mesmo tamanho ou menor era significativamente maior – mas, de novo, quanto maior a dominância do parceiro, em geral, maior era seu tamanho relativo.
Fonte: Folha de S. Paulo | Portal da Enfermagem
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